Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, padrinho da candidatura de João Doria a prefeitura de São Paulo | Marcelo Camargo / Agência Brasil

Durou 24 horas a ilusão de que a Lava-Jato pegaria o presidenciável do PSDB. Depois da prisão de Lula, a operação ensaiou fechar o cerco em torno de Geraldo Alckmin. Ele renunciou ao governo de São Paulo e perdeu o foro privilegiado no Superior Tribunal de Justiça.

Na terça-feira, o braço paulista da Lava-Jato pediu, “com urgência”, que o inquérito contra o tucano fosse encaminhado à primeira instância. Urgência houve, mas não foi exatamente para investigar. Ontem à tarde, a Procuradoria-Geral da República tabelou com o STJ e livrou Alckmin da mira da operação.

O presente foi embalado pelo procurador Luciano Mariz Maia, o número dois de Raquel Dodge. Ele sustentou que os problemas do tucano se limitavam à prática de caixa dois. A ministra Nancy Andrighi aceitou a tese e mandou o inquérito para a Justiça Eleitoral.

A manobra surpreendeu a Lava-Jato paulista. À noite, os procuradores ainda tentavam entender o drible. Esbarravam na falta de transparência. Como o caso tramita em sigilo, nem a força-tarefa conseguia ter acesso à decisão do STJ.

Na delação da Odebrecht, ao menos três executivos relataram repasses ilegais a Alckmin. Eles contaram que o dinheiro saiu do departamento de operações estruturadas, o “departamento da propina”. Nas planilhas da empreiteira, o tucano respondia pelo apelido de “Santo”.

Segundo os depoimentos, ele recebeu R$ 10,7 milhões nas campanhas de 2010 e 2014 — cerca de cinco vezes o valor de um tríplex no Guarujá. O delator Carlos Armando Paschoal disse que Alckmin indicou o cunhado para receber os repasses. Arnaldo Cumplido foi além: “Teoricamente, esses valores saíam dos custos das obras do Estado de São Paulo”.

Ser acusado de caixa dois é o sonho de todo político enrolado na Lava-Jato. A prática é enquadrada no Código Eleitoral, não no Penal. Ninguém vai preso, e dificilmente alguém chega a ser condenado.

Na prática, o “Santo” ganhou um salvo-conduto eleitoral. Poderá fazer campanha tranquilo, sem o risco de uma visita indesejada da polícia. Se ainda quiser produzir algum fogo no PSDB, a Lava-Jato terá que riscar fósforos queimados, como o ex-senador Eduardo Azeredo ou o ainda senador Aécio Neves.

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